VIVENDO PERIGOSAMENTE.




         Conheci Negão no pátio lá de casa, o Danilo, que cuidava do bem estar e da ordem do local, por várias vezes o colocou para fora, não queriam cães assim como ele ali misturado aos demais. Negão chegou um pouco caído, macambúzio, trazendo uma história  de vida pesada é um pouco agressiva, como se podia ver pelo estrago que deixaram em seu corpo, mas mesmo assim tinha um não sei o quê de mágico nele, essa magia dos seres que não se deixam abater nem nas piores situações. Depois de muito tentar Danilo cansou de fazer o papel de vilão e resolveu ser o bem feitor daquele cãozinho machucado, teimoso e obstinado. No dia do pagamento levou então uma guia pro trabalho, dessas que nos impossibilita de fazer o que queremos, que é sair atrás dos carros, brincar e correr solto com o vento batendo no rosto... bem continuando! Quando teve chance Danilo pegou o cão colocou-lhe a guia e levou-o ao petshop que existe a uma quadra daqui. Negão voltou cheiroso, tratado das feridas, e se me permitem dizer sem que pensem coisas sobre mim que não são verdadeiras, O negão tava até bonitão! 
Danilo pediu permissão ao síndico, argumentou que se responsabilizava por ele, e que cuidaria dele muito bem, até poder, (o motivo não sei. ) leva-lo para sua casa... e o Negão ficou! Ficou uma semana, um mês, um mês e quase tres dias talves... daí então o Negão desapareceu como se fosse fumaça!
     Foi em uma noite do verão passado, alguns pensavam que pessoas maldosas o haviam sequestrado e levado para bem longe do condomínio, ou que estaria morto, ou  até preso e por isso não voltara, eu  ficava imaginando como estaria sofrendo o Negão, se estivesse preso, sendo um veterano rebelde por vocação. 
      Os dias passaram como passam todos os dias, todos os meses, uns mais alegres que tristes, outros mais  cheios de paqueras, enfim  tudo como dantes no castelo de Abrantes! Mas certo dia,  quando já estávamos  conformados com o sumiço do Negão, meu pai e eu fomos,  na casa da vó Elza que fica em um bairro a mais ou menos dois quilômetros de nossa residência. Passávamos pelas calçadas das lojas entre as pessoas distraídas com as vitrines que provocativas, atraía os olhares masculinos e femininos. Passávamos nós tranquilamente quando um carrinho de cachorro quente nos chamou a atenção, não pelos seus adereços e penduricalhos de latas de refrigerante e toda aquela parafernália, Não! não era em cima ou acima do carrinho,o que nos chamava a atenção, o que nos chamara a atenção foi em baixo do carrinho! Ele estava ali, sacudido, esparramado e embalado pelo cheiro atraente que saia de dentro da panela onde borbulhavam as salsichas do cachorro quente!!! 
  Ali em baixo tirando um soneca depois de uma provável noitada quentíssima na esbórnia entre a calçada e o meio fio, um cão que nos pareceu conhecido, e meu pai pra se certificar chamou pelo nome que supunha ser dele, e não é que o tal cão olhou distraidamente em  nossa direção? Sim senhoras e senhores! Ele estava ali, bem na nossa frente como se fosse uma agradável aparição.....O Negão!!! Ali estava bem saudável  o cão sem dono, sem patrão, livre como os rebeldes gostam de ser,   Ali,  bem na nossa frente, o meu amigo Negão!  Conversamos, e depois de um longo papo disse-me que se cansou da coleira, dessa suposta mordomia que ele acha que temos pelo fato de não precisarmos caçar o alimento, disse que sentia falta de ser livre andar pelas ruas, de sentir a adrenalina do perigo,  a emoção do "Quem sabe o que terei para comer hoje"! Ou o "Talvez ache um canto quentinho pra dormir"! Quem pode entender o jeito diferente, e livre de viver do Negão? Eu de minha parte gosto de ter a proteção e o carinho das pessoas com quem convivo, mas cada um na sua né? O que importa na verdade, é que ele parecia feliz assim, um vira-latas assumido que gosta de viver perigosamente, só sabe viver com adrenalina na veia!


SPRY.

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